Projeto tenta baratear cadeira de rodas eletrônica no País
Pesquisadores da USP desenvolvem versão nacional da placa eletrônica que comanda o equipamento; custo pode ser até dez vezes menor .
Para controlar uma cadeira de rodas motorizada de última geração não são necessários muitos movimentos. Hoje, é possível mover o equipamento por meio de joysticks, botões, superfícies sensíveis ao toque e até por sopro. A tecnologia que faz com que usuários de cadeiras de rodas tenham mais autonomia, porém, é importada, o que encarece os preços dos produtos, inclusive os produzidos parcialmente no Brasil.
Com o objetivo de baratear os equipamentos, a Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Sedpcd) e pesquisadores da USP, em parceria, estão desenvolvendo placas eletrônicas e instrumentos para cadeiras de rodas motorizadas com tecnologia nacional.
A ideia do projeto partiu do secretário adjunto da Sedpcd, Marco Pelegrini, ele próprio usuário de uma cadeira de rodas motorizada. “Esse equipamento você não compra numa prateleira. Quem tem esse recurso geralmente viajou e o comprou fora do País, assim como eu”, diz ele.
Segundo o engenheiro Marcelo Archanjo, que lidera o projeto do Laboratório de Sistemas Integráveis da Escola Politécnica da USP, as placas eletrônicas, formadas pelos componentes que permitem o controle do equipamento, representam boa parte do preço total da cadeira. Aparelhos com mais recursos eletrônicos, capazes de controlar computadores e aparelhos de controle remoto, por exemplo, podem chegar a R$ 26,4 mil. Neste caso, somente a parte eletrônica da cadeira custaria R$ 8,8 mil, valor que poderá ser drasticamente reduzido se os custos de produção chegarem a um valor dez vezes menor, como promete o projeto.
Com o investimento de R$ 700 mil, a Secretaria investe nas pesquisas para incentivar as fabricantes nacionais a aumentar a oferta de produtos mais acessíveis. Depois de terminado o projeto, os resultados serão oferecidos às empresas de forma gratuita para que as marcas tenham a “receita” para fabricar o equipamento todo no Brasil.
“O problema hoje são os impostos e o custo de frete, que acabam encarecendo o que vem de fora”, diz Jonathan Hummel, diretor técnico da Rea Team, empresa responsável pelas vendas de cadeiras de rodas do Grupo Ortobras, que já demonstrou interesse pelos resultados da pesquisa da USP.
Hummel estima que a adoção de tecnologias nacionais para a produção dos módulos de controle dos equipamentos poderia reduzir o preço da cadeira motorizada produzida no Brasil para cerca de R$ 5 mil. Hoje, o produto feito no País custa, em média, R$ 7 mil, segundo ele. Apesar do alto custo dos equipamentos, o mercado de cadeiras de rodas está em expansão, de acordo com o diretor. “A fábrica da empresa está montando 250 cadeiras por dia neste ano, enquanto que no ano passado eram cerca de 100”, afirma.
Segundo dados do Censo Demográfico 2000, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 24,5 milhões de pessoas no País são portadoras de alguma deficiência, o que representa 14,5% da população. Ainda conforme o Censo, 22,7 % dos deficientes têm alguma dificuldade para caminhar.
O Laboratório de Sistemas Integráveis, que já está finalizando o desenvolvimento de módulos de controle por botões e dispositivos sensíveis ao toque, agora trabalha para tornar o módulo capaz de interagir com aparelhos eletrônicos e faz ajustes de segurança. De acordo com o engenheiro Marcelo Archanjo, o projeto deve ser finalizado em dezembro deste ano.
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